Oppenheim

Confesso que não me lembro ter ouvido falar do arquiteto Chad Oppenheim até aquele dia em que sua frase, encabeçando a página de sua entrevista para Cristiano Dias, na Florense, me chamou a atenção: “A Arquitetura vai muito além daquilo que você vê. Para mim, ela é o que você sente”. O norte-americano, radicado em Miami, dava ali a pista para o que acredito diferenciar uma obra de arquitetura de outra, ou mesmo do que seja a diferença entre arquitetura e outra construção, a “alma”, o “espírito”, as “sensações” que são percebidas naquela obra, naquele lugar, que o tornam especial.

“Acho que há uma overdose de edifícios grandiosos. Eu tento fazer uma coisa que tenha relação com a essência do lugar, valorizando elementos naturais, como o céu, a vegetação e o jeito com que o sol reflete na água... Quero criar prédios que não são além do que eles precisam ser... Quero que as pessoas notem meus edifícios, mas que eles se misturem com o ambiente...”

Estes trechos foram pinçados da entrevista com o propósito de nos lembrar que ainda existe lucidez na arquitetura. Ok, não precisamos todos pensar da mesma forma, afinal exaltamos a diversidade, contudo a padronização do pensamento tem construído uma burrice coletiva, e como dito por Nelson Rodrigues, aliás também presente naquela edição da revista: “Toda unanimidade é burra, porque quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Mas não acredito que erro ao assinalar a grande volúpia por obras “fantásticas”, “estrelares”, por megaestruturas, que assola grande parte de uma sociedade que anseia por se sentir parte daquilo que é, ou pelo menos que se impõe, como necessário para obtenção de sucesso, para a construção de status, para a realização, ou pessoal, ou de uma gestão, ou de uma cidade.

De certa forma isto foi demonstrado neste período eleitoral em todo o país. Não generalizando, mas pouco se viu de propostas com visões mais estratégicas, de alcance maior, pensando as cidades conceitualmente, com propostas de uso de estratégias e ferramentas de gestão que em 2016 já estão, há tempos, ao nosso alcance. Viu-se uma enxurrada de obras e questões pontuais, muitas delas desconectadas, sem qualquer possibilidade de viabilidade, carregadas de populismo e com viés puramente eleitoreiro. Será que, infelizmente, esse é mesmo o jogo a ser jogado?

Vejo cidades e arquiteturas perdendo a essência de suas razões de existir, elas devem ser feitas para as pessoas, para melhorar a qualidade de vida das pessoas. O paradoxo é que elas são feitas por pessoas. Assim acho que nos resta preparar melhor as pessoas. Educação, ensino, cultura. Parece mesmo que é o que mais precisamos. O resto será consequência.