Cidade Ideal
Se eu lhes dissesse que em Paris, no século XIX, num edifício de 5 pavimentos, encontraríamos morando no térreo, o porteiro e sua família, enquanto no 1º. Piso moraria um rico casal de classe média, o segundo piso habitado por uma família de classe média num espaço mais confinado, no 3º. Piso moraria um pequeno burguês e no sótão estariam o artista, o velho e o pobre, talvez fosse difícil acreditar já que é uma situação totalmente diferente da que nós encontramos hoje, onde as nossas coberturas são extremamente valorizadas e os primeiros pavimentos consequentemente tem um valor menor. A situação acima foi retratada por Leonardo Benevolo, em sua “Storia della Citá”.
Mas por que esta introdução? Ela surge num momento de reflexão sobre uma questão que me foi feita durante participação recente numa aula de Planejamento Urbano do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unipar/Toledo. A pergunta foi: - Qual a minha cidade ideal? Para entender a situação do prédio de 5 pavimentos é necessário compreender desde o desenvolvimento tecnológico proporcionado, por exemplo, com o invento e evolução dos elevadores e, principalmente compreender que àquela época Paris passava a ter um aumento acelerado de população numa tradição de moradia coletiva de alta densidade, fortalecida em grande parte pela estabilidade do seu terreno e pelo preço barato de materiais de construção que favorecia a construção de edifícios maiores.
Ainda assim, o que uma coisa tem a ver com a outra? Ora, na mesma época, Londres que enfrentava também um aumento populacional, teve seu crescimento caracterizado em boa parte por ocupações com baixa densidade e no grande número de residenciais individuais. Isso demonstra que contextos diferentes levaram a construção de diferentes tipos de cidade e, não vou aqui entrar no mérito da análise de uma ou de outra, de suas vantagens e desvantagens. É certo, no entanto, que tanto uma como a outra são respostas diferentes a um evento, aumento e concentração de população.
Em parte, isso reforça os argumentos dados quando da minha resposta em sala de aula, não acredito que haja uma fórmula ideal. Cidades diferentes para culturas, tradições e povos diferentes. Assim como para terrenos e lugares diferentes.
Falanstérios, Cidades Lineares, Cidades Jardins, Unidade de Vizinhança, as propostas da Carta de Atenas de 1941, os eixos estruturais de Curitiba, e dentre uma série de modelos de cidades ao longo da história da civilização, não dá para simplesmente escolher entre um ou outro. O que é certo, pelo menos para mim, é que a pergunta que me foi feita, “Qual a cidade ideal?”, deve ser respondida cotidianamente por uma equipe multidisciplinar envolvendo arquitetos, engenheiros, geógrafos, sociólogos, sanitaristas, assistentes sociais, economistas, enfim uma série de especialistas mas que, sem a interação com a sociedade, e prevalecendo as prioridades de pequenos grupos, qualquer proposta de cidade não terá a legitimidade e identidade necessárias a sua apropriação pela sua população.
- Autor: Mario César Costenaro. Texto originalmente publicado na revista “Friends”, em maio de 2017