Insegurança
Em meio a furacões e terremotos escolhi falar sobre a insegurança. Nossa fragilidade está sendo mais do que exposta nestes últimos dias. A polêmica entre os discursos ambientalistas sobre a nossa participação nesses eventos naturais, contrapondo-se a voz de outros que defendem a natureza cíclica desses fenômenos, para mim não deveria ser tão relevante.
Se é devido as intervenções humanas ou não que o planeta anda se aquecendo, não deveria ser o mais importante, e sim procurar entender o que tem levado a humanidade a agir como tem agido. Dois mil e dezessete, terceiro milênio, inovações tecnológicas em acelerado desenvolvimento e parece que temos regredido em nossas relações sociais.
O número de habitantes cresce velozmente no planeta, adequar o sistema produtivo necessário à alimentação de toda essa gente de forma sustentável é o desafio. Mas também é desafiante entender porque frente a tanta riqueza gerada, a tanta evolução alcançada, ainda há tanta fome, tanta miséria, tanta violência, tanto analfabetismo, tantas doenças sociais.
Jovens e crianças perdendo a vida em meio a tiroteios, tanto falamos nos condomínios residenciais, verdadeiras cidadelas cercadas por muralhas em nossas cidades a pretexto de maior segurança (será?), que podem propiciar por exemplo maior segregação social, e acompanhamos, dia e noite, os noticiários das favelas ocupadas pela marginalidade, como se fossem resposta às soluções de classes mais abastadas.
Aliás, as favelas no Brasil transformaram-se em produto de exportação. Mídias, novelas, cinema, música, a favela como fonte de exploração comercial. Exploram-se mulheres e crianças, demarcam-se territórios, e as pessoas dali sem infraestrutura digna de moradia. Muitos políticos provavelmente não desejam solucionar os problemas da cidade, são difíceis, custam caro, podem perder votos. Barato é ver a possiblidade do surgimento de epidemias, de desmoronamentos, barato é ocupar áreas de preservação e impróprias a habitação, barato é curtir os baratos que a vida proporciona, é mais fácil corromper, comprar votos, manter à margem, sob o cabresto, sob à necessidade.
A busca por nossa identidade tem nos deixado atônitos, procurando os nossos caminhos temos enredados por ruelas estreitas e sem fim, por um emaranhado de canais num desenho complexo que não permite ver a direção mais clara, mais aberta.
Furacões e terremotos podem ser afinal, por mais triste que sejam, um alerta a fragilidade humana, pois são nesses momentos que a solidariedade mais se desponta. É uma pena que temos prestado mais atenção em Sandy, Harvey, Katrina, Andrew e Irma, bom será o tempo em que notarmos mais os Joões, os Zés e muitos outros que estão mais próximos.