O que Revelam as Arquiteturas Atuais?
Tenho escrito muito sobre a relação da cidade e arquitetura, principalmente sobre o processo de construção e planejamento das cidades. Tenho também destacado a ideia de uma arquitetura mais consciente, que não busque ou force protagonismos na paisagem urbana. Questiono inclusive a validade de certas “arquiteturas”, que parecem mais imposições e representações de vaidades de quem as produz. Acho que vale a pena, ainda que brevemente, passear por períodos da história de nossa civilização, para refletir ou tentar extrair um pouco sobre a arquitetura produzida na época e dali tentar tirar algum aprendizado.
A arquitetura nasce com o nascimento das cidades. Com o desenvolvimento da agricultura e o abandono da vida nômade, surgem no Crescente Fértil, no Oriente Médio, as primeiras cidades. Aos poucos, o novo estilo de vida e as novas necessidades, foram promovendo o desenvolvimento tecnológico e artístico da arquitetura. As primeiras casas, descobertas em escavações na cidade de Jericó, eram feitas de tijolos de barros. Um dos primeiros exemplos de arquitetura grandiosa foram os Zigurates, templos que são espécies de pirâmides em degraus.
O Parthenon, para alguns historiadores, é tido como uma das mais influentes obras de todos os tempos. Sem dúvida, a sua perfeição geométrica e harmonia refletem a influência da arquitetura clássica grega na produção arquitetônica de outros povos. Já a casa grega, construída à volta de um pátio permitia que o sol no inverno pudesse penetrar até o fundo da habitação. A casa possuía também elementos que no verão a defendia de grandes calores.
A técnica do “cruck frame” utilizada nas casas de madeira, especialmente na Inglaterra, provavelmente foram influenciadas pelas construções de igrejas. A técnica consiste em vigas de madeira voltadas para dentro ou góticas, que se encontram no ápice do teto. As catedrais góticas, aliás, são exponenciais representantes da “tentativa de elevar a vida cotidiana aos céus”. Segundo Jonathan Glancey, a Catedral de Beauvais, com construção iniciada na França em 1220, foi projetada para “tocar Deus”. O historiador ainda cita o Abade Suger, que nos revela que as imagens nos vitrais, nas janelas das catedrais, são principalmente para os humildes, que não sabem ler a Palavra, para mostrar-lhes em quem acreditar.
Os exemplos acima apontam para como as respostas da Arquitetura se deram na “evolução” da civilização. Remetem à compreensão de como o desenvolvimento dos povos determinou o surgimento dos programas arquitetônicos, revelando culturas e tradições, e demonstrando as possíveis relações e influências tecnológicas entre os diversos tipos de construções. É a arquitetura, revelada e que revela, compreendida e que faz compreender o seu lugar e o seu tempo. Talvez uma questão interessante seja: o que as arquiteturas realizadas atualmente revelam?
- Autor: Mario César Costenaro. Texto originalmente publicado na revista “Friends”, em novembro de 2016